quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A SENHORITA E O MOÇO (D.R.)



Como começar uma história romântica? Na verdade não é uma história romântica. Não gosto desse termo. Dá-me a sensação de que será algo do tipo “água com açúcar”. Não sei denominar o estilo em que se enquadraria essa história. Tudo que sei é que não é romântica. Talvez seja aterrorizante, mas romântica não é. O problema é que agora me encontro num dilema: você ou outra pessoa que começar a ler o texto irá lê-lo sem nem saber do que se trata? Injusto! Mas o que posso fazer? Tenho que escrever e esperar que você se permita à leitura. Tenho que acreditar que você me dará crédito! Espero que leia até o final e decida por você mesmo qual é o “gênero” desse conto (crônica ou sei lá o quê). Ou melhor, irei apenas apresentar as personagens e depois cada leitor decide qual a melhor história para eles. Assim não terei mais compromisso com ninguém. Nem com vocês, nem com as personagens, nem comigo mesmo.
Imagine um lugar... Um lugar muito longe, onde não ouvimos árvores, onde não vemos o vento, onde não sentimos os pássaros. Nesse lugar, longe de tudo, onde só podemos chegar através do pensamento, existe uma figura que se adaptou, que praticamente se fundiu ao cenário apático. Essa figura conseguiu burlar o sistema capaz de travar desejos e se firmou no ambiente. Agora lá reside. Agora lá se concretiza. Agora lá existe, quase vive. Agora sim. Antes não. Antes, nada além de um espaço sem chão. De um chão sem firmeza, sem firmamento. Nem divino, nem plebeu, nem fogueira para embalar as noites quentes.
Como chegar ao lugar? Pra que chegar a esse lugar? Não me reterei a perguntas. Tenho que me concentrar nas ações necessárias. É necessário buscar meios.
“Uma barreira intransponível!” - diriam muitos. “Impossível!” – disseram muitos. Não me reterei a terceiros.
Tenho que me concentrar nas ações necessárias. É necessário buscar meios.
Imagine uma pessoa parada, neutra (como diriam os estudantes de teatro), sem expressão na face, sem semblante feliz, nem triste; nem semblante. Após muito tempo (não se sabe quanto: um século, um milênio ou um segundo) nessa posição, nesse estado, o lugar a sua volta se prepara para começar a nascer. E aos poucos vai nascendo, vai se desenrolando, vai surgindo de maneira quase incomum.
Mesmo depois de algumas existências, a figura principal se mantém inerte, inerente, esperando a hora certa de existir. E mesmo sem saber, já existe de fato. Não vive, mas existe. Talvez viva, por que não? Sim, a figura vive! Vive em sua mente. Tão brilhante e capaz que conseguiu chegar até onde se encontra no momento. Só vive lá dentro é bem verdade, mas há necessidade de viver em outro lugar? Não! Ou melhor, ainda não.
Após muito tempo (não se sabe quanto: um século, um milênio ou um segundo), começa a formigar um
semi-instinto, uma semi-agitação. Esse semi-incomodo se torna insuportável, pois antes... Nada, absolutamente nada interferia na sobrevivência. Talvez por isso, hoje, nesse instante, nesse exato milésimo que surgiu a inquietação (mesmo que semi), ela se tornou simplesmente insuportável. Antes era o nada! Hoje (agora), após a quebra desse delicado e perfeito estado de equilíbrio, surgiu uma incontrolável vontade e necessidade de voar. Mas para voar é preciso ter asas, mas para ter asas é preciso permitir-se possuí-las. E depois de finalmente as possuir, deve-se aprender a usá-las. E depois de aprender a usá-las, temos que olvidar os ruídos, as interferências que surgem aos montes (vindos de todos os lados, de baixo, de cima, de dentro)... Talvez a maior dificuldade seja ignorar o grito de dentro. Mas relembrando do estado inicial (aquele estado que veio antes mesmo do ser em questão conseguir ultrapassar as barreiras e chegar ao lugar citado no início do texto) a paz parece quase real.
Esse “matrix” ganha força e mais força. Desabrocha-se às pressas por temer perder a primavera e assume uma postura que jamais imaginou ser capaz. Decisões antes sub julgadas pelas formas matemáticas implantadas no seu chip, passam a aparentar hipocrisia. Ações se rebelam e assumem formas e agora um mundo se abre. Totalmente desconhecido, mas intrigante. Intrigante, suficientemente a ponto de se querer ir. E assim se permite ir. E assim vai, sem se saber pra onde.

Senhorita ou Moço



O que quer? Não se sabe.
O que tem? Inquietude de origem. Urgência! Pressa para concluir tud. Na press, as cois se perdem. Passam desapercebid e são engolid.
Às vezes uma fraude.
Romântico por engano.
O mundo na xícara.
Recém saído do bule, o fervor impede de tomá-lo. Não quero, não posso esperar.
Mas tenho que aguardar.
Não consigo me controlar.
Mas tenho que esperar.
Precipito-me e precipícios se apresentam. Não noto o cânion, por buscar a rosa e não noto a rosa por buscar a lua e não noto a lua por buscar buscas. Não notando vou vivendo e não noto que vivo. E por não notar; acabo sem ser notado. Nem por ela, nem por mim, nem pela vida.
O que quer? Não se sabe.
Não se sabe? Então descubra!
Nada entre o travesseiro e o universo. Nada entre as unhas dos pés e a ponta do fio de cabelo mais longo.
Por vezes triste, por vezes acreditando ser feliz.
“A felicidade consiste em achar que é feliz”. (Autor Desconhecido por mim).
Gosto de frases famosas, pois não sei produzi-las.
E essa em especial corrompe minha alegria quando suponho ser feliz. Percebo a falsidade de meu sorriso. Falso comigo mesmo. Malditos dentes à mostra.
E tentando vivo, ou existo. Conciso assim.

Moço ou Senhorita


Danilo Rangel