O texto me fez recordar um filme que retrata bem essa desolação do ser humano e a busca por algo que o preencha: “Beleza Americana”. Ele mostra várias pessoas insatisfeitas com seus trabalhos, com seus relacionamentos, com elas mesmas. Uma dessas pessoas é um garoto, de 18 anos, chamado Ricky Fitts, que vive carregando sua câmera e tem o hábito de filmar tudo o que lhe desperta interesse. Ele tem um pai durão e uma mãe desatenta, que não lhe dão atenção, e provavelmente esse vazio herdado em casa seja o catalisador para que ele queira registrar em vídeo tudo que poderia ser chamado de “vida” - e que o faça esquecer sua realidade penosa. Em uma parte do filme, ele leva sua namorada para assistir ao vídeo mais lindo que ele já filmou: um saco plástico vazio sendo arrastado por uma corrente de ar. Talvez ele se sentisse daquele jeito: um saco vazio sendo arrastado pela vida. Era a sua identificação.
A vida moderna exige muito do ser humano. Longas jornadas de trabalho, responsabilidades em casa, contas a pagar, problemas sociais. É estressante para qualquer um. É desolador, é vazio, é triste. O ser humano busca uma saída. E existem várias, o cinema é só uma delas. Uns optam pelo álcool, outros pela igreja, outros pelo futebol, outros pelo carnaval. O diferencial do cinema é que contém cenas carregadas com a essência da vida. Cenas marcantes, que podem dar um novo significado às particularidades de cada espectador. “Beleza Americana” consegue mostrar tudo isso de forma única e realista, fazendo com que até uma tragédia – a morte do personagem principal, Lester Burnham - seja interpretada de forma bela e redentora. É como se a vida fosse uma obra cinematográfica, e pudéssemos analisá-la de fora dela. Não é por acaso que a produtora do filme se chama Dreamworks.
Frederico Formiga