quinta-feira, 20 de setembro de 2012

ABREM-SE (S.L.)


Abrem-se as comportas do pensamento livre, da multiplicidade, dos pontos de vista que convergem e são diferentes, do que afasta só para aproximar.
Abrem-se olhos de novidade ao silencioso encontro entre isso mesmo que somos: estranhos, alheios a nós, ao outro, ao mundo.
Abrem-se as palavras... esse mar vasto, infindo, em que, por vezes, sentimentos não cabem, e onde, por emoção ou desespero, faltam à boca.
Abrem-se as mãos para que se escreva o cotidiano como o vemos, permeando-o com o não percebido, ou forrando-o com o que saltou aos olhos, à memória, ou ao desejo - meu, seu, nossos.
Abrem-se os sonhos, para que se concretizem, se não no real, aqui, nesse espaço onírico, flutuante, que toca existências imanentes e supérfluas nessa imensidão de humanidade que o mundo, ou alguma solidão individual, encerra.
Abrem-se as sensibilidades variadas, que se permitem estupefaciar diante de um sorriso infantil, ou de uma lágrima de mais de 80 anos.
Abrem-se as nossas vidas à vida imaginada, porque poética, à ocasião proposta, porque casualmente combinada. Somos portas abertas. E para além delas está o que sua imaginação desenhar.

Susanna Lima

14 comentários:

  1. Enquanto lia, imaginei um bebê acabando de nascer e todas essas "portas" sendo abertas, na vida que ele virá a ter. Me lembrou o filme Waking Life, que é praticamente conversas e diálogos sobre o que é a vida em si. Gostei, parabéns.

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    1. E esse projeto não será de fato um bebê de vida recém iniciada e construída pelas nossas mãos? Acho que sim. Espero que possamos construir cenários encantadores para cada porta possível.

      Um beijo e obrigada pelo comentário.

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  2. "Abrem-se as sensibilidades variadas, que se permitem estupefaciar diante de um sorriso infantil, ou de uma lágrima de mais de 80 anos."

    Diante de um sorriso infantil, de uma lágrima de mais de 80 anos, de duas crianças brincando de amarelinha em tempos tão "modernos"; diante do arco da promessa... diante de coisas simples do cotidiano ou diante de um texto como esse! Estou aqui... sem palavras, deliciando-me. Rendendida à estupefação!
    Jamais subestimaria tua capacidade de me comover, mas esse texto me surpreendeu!
    Feliz aqui...
    Abraço!

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    1. Silvinha, querida, eu sabia que você iria gostar muito de me ver de volta à ativa... rsrs.. Fico feliz por ainda conseguir surpreender pessoas. Acho que essa é uma das características à qual mais dedico atenção e empenho. Tudo anda tão igual, tão normal, tão banal por aí... alguém precisa "fazer a diferença".

      Guarde esse texto como uma declaração minha a você.

      Beijo grande, linda!

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    2. Vou sim guardar e ruminá-lo até que venha o próximo!
      Sei que acredita no meu carinho pelo que escreve...e, minha admiração aumenta por constatar, a cada texto e em cada sms, que tudo não é somente pensado - é sentido! É o que me encanta! É o que sempre me encanta!
      Obrigada por ter vindo de você a melhor declaração dos últimos tempos!Sinto-me honrada! E, novamente, emocionada! AMO TUA VIDA, GURIA!
      Abraço, Lindeza!

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  3. O ambiente negativado do conhecimento tátil, bem à vista mesmo, é uma prisão. Se somos o que vemos e o que tocamos, temos além das "portas" de Susanna o que nos tira do ermo e da mediocridade. Também lembrei duas obras: Ideias de Canário (Machado de Assis) e O Mito da Caverna (Platão) em que o conhecimento de mundo está limitado ao espaço físico, cuja fuga está numa entrada/saída ambivalente. Se nos debruçarmos sobre o que é ideal e o que é real, temos nesse meio termo dois espaços bastante complementares separados justamente por essa concepção de portas, como nota-se bem representadas em "Abrem-se". E "Abrem-se" não poderia deixar de ser mais doce à liberdade se não levantasse a possibilidade multiplicativa de "portas" em lugar de "porta"; se "abrem-se" é porque não é uma; se "abrem-se" é porque o singular dá lugar ao plural e traz uma gama de valores possíveis. Nessa abertura de "portas" ocorre um fluxo invisível de coisas, de objetos, de situações que entram em lugar de uma saída em busca delas. Por isso, temos dois fatos: somos fixos fisicamente e não vamos além do que temos visto no espelho; por outro lado, somos móveis através dos trilhos do pensamentos e das artes onde podemos tentar alcançar de diferentes maneiras um novo tátil, um novo conhecimento, uma nova "experienciação". Como nota-se em "Abrem-se", esse novo ambiente onde só a mente vai é um "mar vasto", e por que não é firme como a terra? Porque estaria limitado pelo campo visual como tudo o que temos ao redor... diante dos olhos, ele precisa dessa insubstancialidade para coexistir com o real. É isso 'tudo o que vemos' um algo impossível de ser provado como real pelos parâmetros múltiplos. Finalmente, "somos portas abertas" porque não há quem não imagine, não há quem não dê liberdade a si vez por outra e não consiga, felizmente, "desenhar novos ambientes com o pensamento". É uma ótima letra, Susanna. A beleza de um texto não está só dos nossos olhos para fora, mas, certamente, dos olhos para dentro... dentro de nós. Parabéns pelo texto ;)

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    1. André, meu amigo queridíssimo, amei o que escreveu. Preciso, inclusive, reler algumas vezes para me capacitar à resposta. Aguarde um pouco. Hoje mesmo dedicarei tempo para replicar à altura desse comentário magnífico.

      Beijos,

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  4. Adorei o texto!

    Não consigo imaginar um texto melhor para iniciarmos esse blog. Aqui somos portas abertas! Somos o que nossas imaginações desenharem pra nós mesmos.
    Durante a leitura desse post fiz diversas analises sobre o mesmo: Qual a interpretação correta? O que a autora quis dizer? Perguntas que não possuem respostas. Ou melhor, qualquer resposta é válida, qualquer interpretação está correta. Afinal de contas, "abrem-se as comportas do pensamento livre, da multiplicidade, dos pontos de vista que convergem e são diferentes, do que afasta só para aproximar".
    Fiquei feliz e tocado. A menininha do grupo chegou com o pé na porta (ou melhor: nas portas).
    Com a doçura que cabe a única menina dos "escritores ocasionais", Susanna conseguiu colocar em seu texto toda a sensibilidade que lhe foi concedida, sem deixar de ser forte e até mesmo um tanto rígida (não sei se essa é a melhor palavra).
    O que quero dizer é que em alguns momentos, durante a leitura do texto, senti como se ela me desse um tapa e depois me dissesse:
    - Ei, as portas estão abertas! Depende de você. Siga, vá adiante...
    Mas a mesma mão que bateu, acariciou e me disse:
    - "Abrem-se os sonhos, para que se concretizem".



    Como estamos em um espaço livre (rsrs), irei destacar um trecho que me deixou comovido. Me deparei com essa frase e pensei: Sempre quis dizer isso, mas nunca encontrei os termos certos!

    "Abrem-se as palavras... esse mar vasto, infindo, em que, por vezes, sentimentos não cabem, e onde, por emoção ou desespero, faltam à boca".

    Como são fortes as palavras! Com elas podemos machucar, ferir, confortar, alegrar... Mas do mesmo jeito; a emoção (ou o desespero) podem nos derrubar e ai... as palavras faltam a boca.

    Parabéns e obrigado!

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  5. Quero me abrir também, quero escrever também! Muito bom o blog, muito boa a iniciativa!Já seguindo vcs : ))))

    Venham conhecer o meu. Espero que gostem:

    leiakarine.blogspot.com

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    1. Eis a pergunta que me fiz e não consegui também seguir: como segue?
      :D

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    2. Como o blog é recente, ainda não criamos nenhum mecanismo com tal finalidade, mas em breve criaremos uma página no facebook, onde todos os interessados receberão informações sobre novas publicações no "Escritores Ocasionais".

      P.S.: Karine, que bom que gostou! Vi seu blog e achei interessantíssimo! Parabéns!

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    3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Danilo, existe um mecanismo (um widget) na plataforma blogger que, ao ser adicionado ao modelo do blog, permite que os interessados acompanhem a página por aqui mesmo. Depois, se tiver um tempo, dá um search nisso aí.

    Sobre a página no FB, eu curti. =)

    E, Karine, obrigada pelo tempo que dedicou ao ler e comentar esse texto. Fico mesmo super honrada.

    Beijão!

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